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Meio Ambiente
“Itaipu é exemplo de energia sustentável”
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25/11/2008

O professor Luiz Gylvan de Meira Filho, um dos pesquisadores brasileiros mais conceituados no mundo na área de estudos climáticos, afirmou que Itaipu é “um excelente exemplo” de usina que gera energia de forma sustentável. Ele considera, também, o Programa Cultivando Água Boa outro “exemplo” para os demais países.

 

Doutor em astrofísica e geofísica, Luiz Gylvan de Meira Filho participou nesta segunda-feira, em Foz do Iguaçu, do 5º Encontro Cultivando Água Boa e do Fórum de Águas das Américas, onde um dos assuntos mais debatidos foi justamente a mudança climática. Para o professor, uma das formas de reduzir a emissão de carbono e diminuir, portanto, o aquecimento global é o governo incentivar, por meio de redução de impostos, a empresa a adotarem formas menos poluentes de produção.

 

 Leia a íntegra da entrevista com o professor Luiz Gylvan de Meira Filho:

 

P: Muito se falou durante o 5º Encontro Cultivando Água Boa sobre o consumo exagerado como um dos responsáveis pelos atuais e futuros problemas ambientais. Na sua avaliação, qual a relação entre consumo e mudança climática?

R: Você pode olhar este problema sob os pontos de vista da produção e do consumo. Na realidade, são duas faces da mesma moeda. Pelo lado da geração de energia, você pode dizer: eu preciso gerar energia de forma sustentável. Itaipu é um excelente exemplo. Uma hidrelétrica é sustentável por definição, e é melhor do que gerar energia queimando carvão, como é feito em vários países, como na China, Índia e Estados Unidos. O problema é que estamos consumindo muita energia. Se consumíssemos menos, não precisaríamos queimar tanto carvão. E Itaipu, que já é uma importante fonte de energia limpa, resolveu atuar também na ponta do consumo. É uma combinação única. Não há muitos exemplos como esse no mundo.

 

P: Qual a sua opinião sobre o Programa Cultivando Água Boa?

R: É interessante porque usa todo o poder que tem uma empresa do porte da Itaipu para melhorar a qualidade de vida de quem vive em seu entorno. Não é à toa que serve de exemplo para outros países.

 

P: Quais as prioridades para realizar a contenção das mudanças climáticas no planeta?

R: Ainda há tempo para conter. Mas não por muito tempo. Talvez nós tenhamos ainda uns dez anos. Precisamos correr. Não há soluções mágicas. E as saídas já estão aí, várias delas conhecidas no Brasil. Uma delas é conscientizar as pessoas para segurar o consumo, o que não significa viver pior. Você não precisa da energia, mas das coisas que a energia proporciona. Em um país frio, como a Alemanha, por exemplo, dá na mesma gastar mais óleo combustível para aquecer a sua casa ou tê-la construída com as janelas mais bem isoladas contra a perda de calor. A arquitetura colonial do Brasil, herdada dos mouros, é um exemplo de como se pode ter o mesmo conforto sem usar ar-condicionado. É uma questão de ser um pouco mais inteligente e buscar formas de usar menos energia e conseguir o mesmo conforto. Mas a solução do problema exige uma combinação de diversos fatores.

 

P: Qual o papel do governo no estímulo de saídas para o aquecimento global?

R: Os governos têm um papel importante, que é criar um marco regulatório apropriado, com incentivos financeiros, para induzir todos a irem para o lado certo. Há alguns setores onde o governo não se mete muito, como, por exemplo, produção de ferro e aço. Qualquer um pode produzir o quanto quiser, desde que pague impostos e cumpra as leis. Nesse sentido, quem produzir aço com menor emissão de CO2 poderia pagar menos imposto. No setor energético ou de transporte, o governo ainda é o próprio regulador. Grandes decisões sempre têm a mão do governo, o que facilita ainda mais a resolução do problema nessas áreas.

 

Quem é o especialista

 

Luiz Gylvan de Meira Filho foi diretor diretor científico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o primeiro presidente da Agência Espacial Brasileira. Nessa mesma época, criou o Centro de Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, em Cachoeira Paulista (SP). Foi também um dos presidentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e participou da elaboração do Protocolo de Kyoto.

 

Aposentado do serviço público, recentemente atendeu à sugestão do amigo e colega José Goldemberg (professor, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Educação e do Meio Ambiente) e ingressou no Instituto de Estudos Avançados (IEA), da USP, onde trabalha como professor visitante e se dedica às pesquisas sobre mudança de clima. “Parei de fazer as coisas que o governo me pede e agora faço o que eu quero”, disse, bem-humorado.